Diferentes modalidades da injustiça no juízo: uma reflexão a partir de São Tomás

  • Lino Rampazzo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL)
  • Marcius Tadeu Maciel Nahur Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL)

Abstract

Este artigo pretende estudar o pensamento filosófico tomasiano em cinco questões da Suma, sobre  a injustiça do juiz no julgar (q. 67), a acusação injusta (q. 68), a injustiça do réu (q. 69), a injustiça da testemunha (q. 70) e a injustiça dos advogados (q. 71),  a partir de uma visão geral desta obra. Percebe-se, antes de tudo, o espaço considerável que a Suma reserva para tratar do tema da “Justiçaâ€. Com referência à primeira questão, o juiz, para não ser injusto, precisa julgar com base nas provas, não condenar quando falta a acusação, nem relaxar a pena. Quanto à  acusação, tem que ser acompanhada por provas e em texto escrito: e se torna injusta pela calúnia, pela prevaricação e pela tergiversação. Em seguida, considera-se que o réu nunca pode propor uma falsidade, nem provocar uma dilação no processo, ou defender-se usando a violência, quando foi condenado justamente. E, a respeito da questão da testemunha, existe a obrigação de testemunhar quando se trata de livrar alguém de algum dano que sofreria injustamente. O depoimento de várias testemunhas, que não sejam infames,  leva não a uma certeza absoluta, mas provável. E, quanto à última questão, os advogados têm a obrigação de defender as causas dos pobres somente em situações de extrema necessidade. Há impedimento no exercício desta função ou por incapacidade, ou por incoveniência. E comete falta grave o advogado que defende uma causa injusta, sabendo disso. Pretende-se, assim, a partir de um autor clássico, analisar o tema da Justiça que marcou toda a reflexão etico-jurídica da  civilização ocidental, podendo apontar caminhos para que a justiça seja vivenciada e a injustiça evitada, também no Tribunal.

Author Biographies

Lino Rampazzo, Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL)
Possui graduação em Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras de Lorena (1986), graduação em Teologia - Pontificio Seminário Regionale di Chieti (1970), mestrado em TEOLOGIA pela PONTIFICIA UNIVERSIDADE LATERANENSE (1975) e doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense (1978). Pos-doutorado em Democracia e Direitos Humanos pela Universidade de Coimbra/Ius Gentium Conimbrigae. Atualmente é professor e pesquisador do CENTRO UNIVERSITÀRIO SALESIANO DE SÃO PAULO (U.E. Lorena) e Coordenador do Curso de Filosofia da Faculdade Canção Nova (Cachoeira Paulista). Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em TEOLOGIA, ÉTICA e BIOÉTICA; e em METODOLOGIA CIENTÃFICA.
Marcius Tadeu Maciel Nahur, Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL)
Possui Mestrado em Direito pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo - Unidade de Ensino de Lorena(2007). Atualmente é delegado de polícia e professor titular do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - Unidade de Ensino de Lorena. Tem experiência na área de Direito e Filosofia, com ênfase em Direito

References

AQUINAS, St. Thomas. Commentary on the Nicomachean Ethics. Tradução de C. I. Litzinger. Chicago: Leonina, 1964.

______. On the Virtues. Tradução de J. P. Reid. Providence: Leonina, 1951.

______. The Soul. Tradução de J. P. Rowan. St Louis: Leonina, 1949.

AQUINO, São Tomás. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Corrêa. 2. ed. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, Livraria Sulina Editora; Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 1980. v. V.

BARROS, Alberto Ribeiro Gonçalves de. Direito Natural em Cícero e Tomás de Aquino. In: PISSARA, Maria Constança Peres; FABBRINI, Ricardo Nascimento (Coords.). Direito e Filosofia: a noção de justiça na história da filosofia. São Paulo: Atlas, 2007. p. 43-57.

BITTAR, Eduardo C. B. Curso de Ética Jurídica: ética geral e profissional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia do Direito. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

CAMELLO, Maurílio. Sobre o conceito de direito em Santo Tomás de Aquino. Direito & Paz, Lorena, ano 04, n. 06, p. 237-256, jun. 2002.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 1999.

COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno Tratado de Grandes Virtudes. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

CORDIOLI, Leandro. Direito Natural em Tomás de Aquino: sua reinserção no contexto do juspositivismo analítico. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris. Editor, 2007.

COSTA E SILVA, Luciana Maria da; CAMELLO, Maurílio. A noção de lei em Santo Tomás de Aquino. Direito & Paz, Lorena, ano 04, n. 07, p. 67-86, dez. 2002.

CORTES, Guido Pinheiro. Relações com o cliente: In: FERRAZ, Machado (Coord.). Ética na advocacia: estudos diversos. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 35-63.

FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón. Traucción de Perfecto Ibáñez et el. Madrid: Trotta, 1995.

FINNIS, John. Direito Natural em Tomás de Aquino: sua reinserção no contexto do juspositivismo analítico. Tradução de Leandro Cordioli. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2007.

GILSON, Étienne. El Tomismo: introdución a la filosofía de Santo Tomás de Aquino. Traducción de Alberto Oteiza Quirno. Buenos Aires: Desclée de Brouwer, 1960.

GOLDSCHMIDT, James. Problemas Jurídicos y Políticos del Proceso Penal. Barcelona: Bosch, 1935.

JOSAPHAT, Carlos. Paradigma teológico de Tomás de Aquino: sabedoria e arte de questionar, verificar, debater e dialogar: chaves de leitura da Suma de teologia. São Paulo: Paulus, 2012.

JUSTINIANO, Flávio. El Digesto de Justiniano. Tradução de Ãlvaro d’Ors F. Hernández; P. Fuenteseca; J. Burillo. Pamplona: Aranzade, 1972. t. II.

LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História: lições introdutórias. São Paulo: Mas Limonad, 2000. 487 p.

LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução crítica ao Processo Penal: Fundamentos da Instrumentalidade Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

MACINTYRE, Alasdair. Justiça de quem? Qual racionalidade? Tradução de Marcelo Pimenta Marques. São Paulo: Loyola, 1991.

MARTINS, Ives Gandra. A cultura do jurista. In: NALINI, José Renato (Coord.). Formação jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. p. 119-120.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 1991.

MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. Tradução de Benôni Lemos. 11. ed. São Paulo: Paulus, 2003. v. 1.

NASCIMENTO, Carlos Arthur Ribeiro do. Um mestre no ofício: Tomás de Aquino. São Paulo: Paulus 2011.

______. Santo Tomás de Aquino: o Boi Mudo da Sicília. São Paulo: Educ, 1992.

NUNES, Claudio Pedrosa. A conceituação de justiça em Tomás de Aquino: um estudo dogmático e axiológico. Curitiba: Juruá, 2013.

PERONE, Ugo e Annamaria; FERRETTI, Giovanni; CIANCIO, Claudio. Storia del pensiero filosofico. Torino: SEI, 1975. v. 1.

PIEPER, Joseph. Las virtudes fundamentales. Traduçaõ de Calos Mleches. Madrid; Ediciones Rial AS, 1976.

PITTA, José Pereira de Paiva. A Ignorância ou Erro de Direito. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1871.

TOMMASO, D’Aquino (San). La Somma Teologica. Bologna: Studio Domenicano, 1996. 6 v.

TORREL, Jean-Pierre. La Summa di San Tommaso. Traduzione di Patrizia Conforti. Milano: Jaca Books, 2003.

VILLEY, Michel. O Direito e os Direitos Humanos. Tradução de Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

______. Filosofia do Direito: definição e fins do direito. Tradução de Márcia Valéria Martinez de Aguiar. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Published
07/12/2016